domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional da Mulher – A pergunta prevalece: comemorar o quê?

Eu gostaria que nós, mulheres, tivéssemos bons motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Gostaria mesmo! Mas o fato é que há ainda tanta coisa a avançar, tanta, que fica realmente difícil qualquer comemoração.
E, se em março de 2014, eu iniciei meu texto dizendo que não tínhamos o que comemorar neste dia, “porque o ano de 2013 foi marcado pelo conservadorismo, e vários setores que representam as minorias tiveram que se mobilizar muito, mas muito mesmo, para não perder direitos que já estavam garantidos na constituição”. O ano de 2014 não foi diferente e o de 2015 também não promete mudanças. Ao contrário!
Na verdade, tenho a impressão que a luta por respeito e igualdade tende até a aumentar nos próximos anos, tendo em vista que nas últimas eleições o povo brasileiro elegeu o congresso mais conservador desde 1964!
E, se o ano de 2013 também foi marcado pela divulgação de estatísticas assustadoras:segundo apontamentos, há três anos, o Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos”. Em 2014, a coisa não foi nada diferente. Apesar de não ter estatística mais recente em mãos para confirmar essa informação, é perceptível, a qualquer um que queira ver, que a violência contra a mulher está aumentando significativamente, sobretudo a violência psicológica.
Vejam os diversos casos de mulheres que sofreram ameaças de estupro “corretivo” e morte ao defender o empoderamento e direito da mulher nas redes sociais. É simplesmente AS-SUS-TA-DOR!!
E não, não é nenhum exagero dizer que o machismo, a misoginia têm crescido nas redes sociais. Tem sim. E muito. Conforme a matéria ‘Misoginia na internet’, no ano passado a misoginia online entrou na roda com o chamado “GamerGate”, quando diversas mulheres na indústria dos jogos, principalmente as desenvolvedoras Zoe Quinn e Brianna Wu, além da blogueira Anita Sarkeesian, foram alvo de uma onda de ataques machistas. No Twitter, no Reddit e em imageboards como o 4chan, as mulheres receberam ameaças de estupro e morte. Há também o caso da jornalista australianaAlanah Pierce, que ficou famosa por enviar printscreens das ameaças que recebia para as mães de seus assediadores, em sua maioria adolescentes.
Há algumas semanas, a jornalista Ana Freitas publicou um texto sobre misoginia em chans e imageboards brasileiros. Nos comentários da página, as manifestações de algumas pessoas — principalmente homens, mas não só — confirmaram perfeitamente as críticas expostas no texto. Para esses comentaristas, pedir respeito é “mimimi” e as mulheres seriam aceitas nesses espaços desde que não se identificassem publicamente como mulheres. Nada contraditório vindo de quem, por exemplo, se refere a mulheres como “depósito de esperma”.
Em relação ao mercado de trabalho, tudo continua notoriamente sem qualquer mudança. A mulher permanece ganhando um salário menor que o homem, continua sendo uma mão de obra barata, ‘dócil’, instruída (já que conforme pesquisas, mulheres têm mais anos de estudos que os homens) e de autoestima reduzida por uma cultura misógina, que lucra muito pregando inseguranças às mulheres (a ‘ditadura da beleza’ instituiu dois grandes medos para dominar o público feminino: o medo de envelhecer e de engordar, e isso gera altos lucros às ‘indústrias da beleza’)”. E continuamos com a dupla ou tripla jornada de trabalho, tendo em vista que a maioria das mulheres trabalha fora e em casa.
Há ainda a necessidade cada vez mais premente de questionar velhos mitos que nos infligiram ao longo do tempo e que em nada nos engradecem ou privilegiam, ao contrário, nos colocam em uma posição que nos torna subordinadas a tradições patriarcais. É costume ver nas redes, em datas como essa, uma enxurrada de mensagens com fotos de flores e asneiras que parecem “elogiar” as mulheres, mas que, infelizmente, só ressaltam expectativas machistas.
Enfim, ratifico que temos uma batalha muito grande pela frente nas mudanças dessas e de outras tantas situações e também na desconstrução desses mitos que nos abatem diariamente, nos inferiorizam, nos tiram a autonomia e nos limitam a papéis de dependência dentro da sociedade.
A violência contra a mulher é REAL e diária. Está nas redes sociais, nas ruas das cidades e dentro de muitas empresas e inúmeras residências. Por isso é tão importante provocarmos o debate nesse dia 08 de março e estendermos para os demais dias do ano, para o dia a dia. Por isso é tão importante que homens e mulheres se unam na desconstrução de mitos e na conquista pela igualdade de direitos. Afinal, mudanças desse porte não ocorrem do dia para a noite e nem muito menos num único dia. Pensem nisso!

Texto de Janethe Fontes.